Única brasileira em missão da ONU no Sudão relata falta de energia e ordem para permanecer em casa

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Rio de Janeiro,04/05/2024

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Única brasileira em missão da ONU no Sudão relata falta de energia e ordem para permanecer em casa

Fonte: g1.globo.com
Única brasileira em missão da ONU no Sudão relata falta de energia e ordem para permanecer em casa
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Major Gabriela Rocha Bernardes diz esperar orientações para deixar o país. Governo brasileiro e ONU monitoram situação. Conflito entre grupos militares do Sudão já dura quatro dias. Major do Exército brasileiro Gabriela Rocha Bernardes
Arquivo Pessoal
A major do Exército brasileiro Gabriela Rocha Bernardes espera há quatro dias novas orientações da Organização das Nações Unidas (ONU) para deixar o Sudão após o início de um confronto entre forças militares do país no último sábado (19).
Há dez meses, ela é a única militar brasileira na Missão Integrada das Nações Unidas de Assistência à Transição no Sudão (Unitams), criada para dar apoio às forças políticas locais no processo de reorganização das estruturas de governo do país do Norte da África.
Segundo o Exército, a missão é voluntária. Para participar, integrantes da organização manifestam a intenção e, após um processo interno, são indicados às Nações Unidas.
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A major vive em El-Fasher, na Região Oeste do Sudão. Ela é oficial de carreira do Exército e entrou na organização há quase 18 anos. Teve passagens por gerências de comunicação da força e pela chefia da Subseção de Ensino e Doutrina do Centro de Estudos de Pessoal e Forte Duque de Caxias, responsável pela capacitação de membros das Forças Armadas.
Na Unitams, a oficial faz parte do grupo responsável pelo comitê de monitoramento dos termos de um acordo de paz firmado entre o governo de transição do Sudão e representantes de grupos armados do país.
Esse organismo realiza o monitoramento contínuo e atua na mediação política de conflitos entre os lados.
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No sábado (15), ao preparar os informes diários do comitê, a oficial recebeu uma orientação para não deixar o local no qual está alojada. Começou naquele dia um novo conflito armado no Sudão. A disputa é motivada pelo descontentamento de forças paramilitares do país com os planos de reestruturação do governo civil.
“Eu estava em casa terminando de enviar o relatório diário, que faz parte das nossas atribuições, e fui informada pelo presidente do comitê permanente de cessar-fogo, no qual atuo, para continuar em casa e manter contato com os demais integrantes, procurando abrigo e de forma alguma sair”, disse.
No primeiro dia do conflito em El-Fasher, a major relatou ter acompanhado mais de dez horas seguidas de bombardeios e intensos tiroteios. O confronto só esfriou, de acordo com ela, ao avançar da noite.
Com o passar dos dias do conflito, ela avaliou que os grupos militares intercalam, durante todo o dia, momentos de explosões e tiros com horas de calmaria.
“É uma pena [o confronto] nesses momentos finais [de transição]. Em abril, estava prestes a ser assinado um acordo entre militares e civis para transição do governo, do poder, e infelizmente a gente está assistindo a essa situação. O enfrentamento é um retrocesso nesse trabalho humanitário que vem sendo feito por tantas entidades e organizações, pela comunidade internacional, em apoio ao Sudão”, afirmou.
Problemas com energia
Gabriela Rocha Bernardes disse ainda que a eclosão dessa nova disputa militar no país agravou os problemas de fornecimento de energia elétrica na região.
“Aqui, em El-Fasher, a gente vive um problema de abastecimento de energia elétrica e agora com essa situação de conflito é ainda pior. Nós precisamos economizar o combustível para fazer o uso de um gerador”, afirmou.
É nos momentos de retomada no fornecimento de energia elétrica que ela aproveita para carregar dispositivos eletrônicos, preparar comidas e tomar banho.
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À espera de orientações
Após a recomendação inicial para não deixar o local no qual estava abrigada, a major afirmou que pôde aprofundar o monitoramento da situação no país na terça (18).
Na ocasião, representantes da ONU sinalizaram à oficial que avaliam o melhor momento para retirada dos integrantes da missão no país. Ela aguarda novas orientações para a saída do país.
“A ONU tem sido bastante presente, orientando e mandando sempre a gente estar em um abrigo, para ninguém sair de casa, ninguém sair de onde está. E já estamos todos preparados e em condições de sair quando houver a possibilidade”, disse.
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“Já está sendo estudado um possível plano de evacuação, mas é preciso levar em consideração muitos fatores: espaço aéreo, a capacidade logística, a quantidade de pessoas. Tem muita coisa a se considerar para que isso possa acontecer da maneira mais segura”, contou.
Além das Nações Unidas, os ministérios da Defesa e das Relações Exteriores do Brasil também acompanham o desdobramento do conflito para eventualmente uma operação de retirada de brasileiros no país.
“Todas as instituições do nosso país estão fazendo o que cabe neste momento para dar o conforto que é possível [...] A gente permanece em condições de sair a qualquer momento, de acordo com as orientações da ONU e sendo monitorado pelas instituições do Brasil”, disse.
Conflito
Antes aliados, o comandante do Exército sudanês, Abdel Fattah al-Burhan, e o líder das forças paramilitares, Mohamed Hamdan Dagalo, discordam agora sobre a possibilidade de incorporação do grupo armado às forças oficiais do país. O conflito entre os grupos militares já matou mais de 200 pessoas no país.
O Sudão convive com instabilidades políticas desde 2019, quando o então presidente Omar al-Bashir foi deposto pelas Forças Armadas. Dois anos depois, quando o país se preparava para uma transição democrática, os militares deram outro golpe.
Desde então, com apoio de Dagalo para a repressão de protestos civis, al-Burhan tem comandado o país, enquanto negocia os termos de transição com organismos internacionais.

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